Não falta qualquer coisa?
Depois de uma respiração profunda entre as gotas de chuva que não caíam mais, caminhei pensamentos e desembrulhei sentimentos empacotados naqueles recantos de que havia memória.
Não pedi nada. Aliás, pedi sim! Pedi aquilo a que tinha direito.
Não recebi.
Tropecei em palavras, empurrei razões, corri sobre o tempo e sorri sobre clarões, sempre.
Mesmo os que não esperava encontrar.
Afinal, triste é sabermos a verdade antes do tempo.
Sabia-a. Quis ignorar. Antes, quis acreditar.
E perdoar.
Guardo o peso do mundo num armazém algures por aí. Um peso que lançarei ao mar das minhas costas, não tardará muito.
Antes relembrarei o caos deste passado recente.
Há quem procure beleza nas mentiras… eu procuro-lhes o reflexo de uns lábios.
Lábios que guardam os meus.
Lembretes que mencionam o meu nome algures em registo de agenda… conto já com a sua inexistência.
Não encontrei razão que me mantivesse aqui.
Hoje tenho razões para partir.
Mas ainda gosto de ler olhares, gosto do cheiro da provocação e desrespeito, gosto de sentir corações a galope, gosto de enfrentar ventos de desilusão e amargura, gosto de o concretizar enquanto faço embrulhos.
Gosto de sentir a luta para me afogar, para me esconder enquanto represento e visto o papel de actriz perfeita.
No fim, parto sem olhar pra trás.
Ficam embrulhos de sentimentos e os restos de uma noite pronta a retirar-lhes a fita vermelha…
“O silêncio existe quando a ridicularidade supera a inteligência do que poderia ser dito.”
Não falta nada.