17 de dezembro de 2007

Multa Fidem Promissa Levant



Desculpa-me...
Desculpa-me nunca ter percebido.
Desculpa-me nunca ter visto, ter-me mantido sempre cega por aquilo em que acreditava.

Fazias de tudo para que percebesse e não quis perceber.
Preferi entender à minha maneira.

No fundo, só querias evitar tudo isto e eu não entendi isso.
Devia saber que a tua palavra sim, sempre valeu e sempre esteve certa.
Devia saber que nela podia sempre confiar.

Agora sei que é a única eterna.
Mais verdadeira e segura do que todas as outras que me deram e me querem oferecer.
A tua é para sempre e só a ti cabe o verdadeiro poder de usar essa promessa.

O Homem não a sabe cumprir.

16 de dezembro de 2007

O Suor do Teu Sorriso



Permanecia firme e estático em si mesmo.
Os seus olhos cruzaram-se. Sabia que estavam sozinhos. Foi a partir desse instante que a luta interior contra si mesmo aumentou descontroladamente. Mas apercebeu-se que era só ele, num mundo.
Desistiu.
Puxou-a contra si. Mesmo que por muito que tentasse resistir-lhe, a sua força tinha aumentado demasiado para poder superá-la.
Caíram.

Enquanto passava a mão pela perna dela, cruzaram novamente o olhar. Tinha os seus olhos muito brilhantes, calmos...traduziam um sorriso que os lábios mal conseguiam expressar.
Fechou-os enquanto soltava o seu último suspiro.

Abriu-os de novo.
Acabou.
O brilho, o sorriso do seu olhar... tudo desvaneceu nele mesmo no início de mais um dia.


Era só um sonho.

8 de dezembro de 2007

Olhos Verdes e Lábios Salgados



Pergunto-me muitas vezes porque terei vindo para esta realidade, porque terei tomado esta forma, porque terei vindo habitar este corpo…
Procuro razões, sentidos, respostas e por vezes questões quando sinto perder tudo.
Antes era fácil senti-las ao meu lado, mesmo sem as encontrar de qualquer maneira.
Apesar do sentimento do demasiado cheio ser incomodativo, não era tanto como o do demasiado vazio.
E agora sei. Agora sei diferenciar e sei usar o verbo “querer”.
Agora sei notar e entender o que fui muito e o que fui pouco.

Uma rajada de vento afasta-lhe os cabelos da cara fazendo-os esvoaçar, ondeando como que a imitar as ondas do mar à sua frente.
O vento é ameno como aquele fim de tarde mas ela sente-o frio na sua pele. Demasiado frio.
Uma onda desmaia mais fortemente na areia e atinge os seus pés, descalços.

Já contenho demasiado sal para precisar do que te fiz constituir. Limpa as lágrimas!
Elas cegam-te quando mais precisas de ver. Não esqueças isso!...

Em volta reinava o silêncio quebrado pelo murmúrio agitado e turbulento das ondas. Mais ninguém se encontrava na praia. Só ela. Mas não estava sozinha.
O seu cansaço devia-se a todo o seu esforço em manter-se naquela postura. Entre o tudo e o nada. Feliz na tristeza. Forte unicamente no fracasso.
De resto, tudo era facilmente ultrapassável. Tudo excepto a luta escusada contra aquilo que sentia.
E agora sabia-o. Sabia finalmente como nunca o soubera tão bem.
E por isso desistira há muito de lutar por essa causa.
Afinal, para quê lutar por algo que não nos dá benefícios?
Para quê lutarmos contra nós próprios?
No passado cometera esse erro várias vezes. Mas agora estava decidida a nunca mais o repetir.
Estava feliz pelos seus sentimentos. No fundo, agora sim, tinha tudo. Mas não era tão assim que o sentia. Faltava algo para esse tudo. Algo que não era pequeno em significado, muito pelo contrário.
E dentro de si procurava saber se essa falta era a razão que a tinha levado ali e ali a mantinha.

Porque tive de vir?! Porque não pude ficar onde estava?!
Deixa-me voltar! Limpa-me a mente, solta-me a alma, devolve-me a forma…

Tinha os olhos inundados de lágrimas e a cara encharcada.
Toda aquela vista deslumbrante de um pleno oceano à sua frente reflectia-se nos seus brilhantes olhos verdes.
O sol continuava o seu caminho de regresso ao horizonte, as horas iam passando e o vento e as ondas começavam a acalmar ao mesmo tempo que os seus olhos começavam a secar e o seu coração a habituar-se de novo à dor que já tão bem conhecia.
Por momentos jurou ouvir o seu nome a ser chamado por ele, mas a voz vinha do outro lado do mar.
Relembrou-se do passado. Entendia que agora todos aqueles cumprimentos simbólicos estavam a ser-lhe entregues, agora que estava em casa.
Por instantes baixou de novo a cabeça e, inconscientemente, começou a chorar. Caiu de joelhos.

Levanta-te! Ergue a cabeça! Olha à tua volta!...
Só uma verdadeira força consegue conhecer um puro sentimento.
Só algo destroçado pode conseguir avaliar o conforto e acolhimento de um coração.
Ergue-te!

Levantou-se com esforço e desinteresse.
O único ruído envolvente já só era, praticamente, a sua respiração descompassada e um leve enrolar das ondas na areia. O mar estava a tornar-se calmo. Já não havia vento. Cessara completamente como se subitamente soubéssemos que algo está para acontecer. Em que até mesmo as nossas respirações, inconscientemente se sustêm e assim se mantêm sem mesmo sabermos.
Um ruído atrás dela chamou-lhe a atenção. Manteve-se hirta sentindo-se como se tivesse sido surpreendida intimamente de modo inesperado.
Não ouviu nada mais e pensou que poderia ser então a sua imaginação. Por qualquer razão não queria voltar-se. Não queria olhar para trás.
Mas não esperou muito até ter a certeza que afinal estava certa. Afinal não estava mais sozinha.
Um ligeiro aroma tocou-lhe os cabelos e encheu-lhe o peito. Um aroma conhecido, familiar…muito próximo.
E agora sim, mais ruídos. Quase inaudíveis. Mas presentes. Tão presentes como ela, tinha quase a certeza disso.
Inexplicavelmente os seus olhos encheram-se de lágrimas sem ela mesma as poder controlar. No fundo, nem sequer se tinha apercebido da sua súbita tomada de território nos seus olhos.
Fechou os olhos e tentou esquecer tudo aquilo que estava a sentir e só voltou a abri-los quando um tocar suave de uma mão lhe tocou a sua e a agarrou.
Voltou-se e os seus olhos encontraram finalmente os dele. Era um novo olhar, algo que pela primeira vez estava a conhecer, mas no entanto os mesmos que a tinham preso desde o primeiro dia.
Os seus olhos não estavam mais cheios de lágrimas. Estas escorreram de imediato pela sua face logo que os olhares se tocaram. E continuavam a correr. Sem barreiras.

Juntou-a a si num abraço e por momentos poderia jurar que conseguia sentir os dois corações batendo como um só.
No caminho para o encontro do sabor salgado dos seus lábios, limpou-lhe as lágrimas, comoveu-se na profundidade verde do seu olhar e juntou-a a si como o fechar de um livro que chega ao fim.


O mar tornara-se um lago, como nunca visto antes, o sol, quase desaparecido, podia desenhar-se no horizonte e a noite ia caindo, única e quente, por cima deles naquela praia onde se encontravam sozinhos.
Juntos.