25 de março de 2011

O longe tão perto.




O meu corpo estremece. O piano voltou mais uma vez. Sei o que se segue.
É tão certo como as palavras que rebentam em mim. Persistente, subtil, incerto e perdido em desejo.
Tento mudar-lhe o sentido. Sem sucesso.
Não quero falar de ninguém.
Não quero as notas que já conheço e silenciam sem a música terminar.
Não há mares que separem, não há distâncias que durem noite e dia.
Tudo acaba sem eu querer parar. E descubro que nem iniciou.


Pediram-me que não parasse.


Achada a razão, que noção fica?
E se levar em mim o mar, o vento e a noite...quantos sons a rua dita?
Quantos deles ficarão num abraço que ficou por dar?

Despi-me e no sofá pensei no ontem e no amanhã, nas cartas que teria escrito, nas músicas que teria guardado, nas noites que teria roubado... e em todos os pedaços de porcelana que em mim foram criados.
Já me perdi. A desistência é só de quem luta. E é só minha.

Pedi ao choro para adormecer, um assíduo ajudador.

O piano voltou à música.
A campainha tocou.
Lá fora, no chão, encontrei flores e cartas cujas palavras já esperava sem saber.
As mesmas.



Um cheiro invulgar trouxe-me o despertar.
E acordei, com flores ao lado.